Saturday, May 28, 2005

George Miller, um pouco de história II

De acordo com minha promessa, reproduzo aqui a tradução de excertos do livro Acts of Meaning de Jerome Bruner. É difícil hoje avaliar os desafios que os defensores do cognitivismo tiveram que enfrentar, pois lutaram contra um poder muito bem estabelecido, uma psicologia que proclamava suas virtudes científicas e que dominou o cenário acadêmico por mais de meio século. Bruner, Miller e outros enfrentaram uma oposição poderosa, foram ridicularizados por alguns e combatidos pela maioria. Cesso os meus comentários por aqui. É melhor ouvir a voz de Bruner, descrevendo os novos rumos e apontando os perigos de uma hegemonia que pode levar-nos a perder de vista os objetivos iniciais da revolução cognitivista. Com a palavra, Jerome Bruner:
Quero começar com a Revolução Cognitivista como meu ponto de partida. A revolução pretendeu trazer a "mente" de volta para as ciências humanas depois de um longo inverno de objetivismo. Mas o meu balanço não será aquele de um progresso marchando sempre para a frente. Pois, pelo menos para mim, essa revolução agora se desviou para assuntos que são marginais ao impulso que a trouxe à tona. Na verdade, ela foi tecnocalizada de tal maneira que até mesmo abafa o impulso original. Isso não quer dizer que ela falhou: longe disso, pois a ciência do conhecimento é uma das áreas que mais consegue recursos para pesquisa e bolsas de estudo. É mais certo dizer que ela se desviou de seus propósitos por causa de seu sucesso, um sucesso cujas virtuosidades tecnológicas têm custos muito altos. Alguns críticos, talvez injustamente, até mesmo argumentam que a nova ciência do conhecimento, filha da revolução, ganhou espaço à custa de desumanizar o próprio conceito de mente que ela ajudou a reestabelecer na psicologia, e que por isso afastou a psicologia das outras ciências humanas.
[...]
Agora deixe-me dizer primeiramente como eu e meus amigos entendemos a revolução lá atrás nos anos cinquenta. Ela era, pensávamos, um esforço total para estabeler o significado como o conceito central da psicologia - não estímulos e respostas, não comportamento observável, não impulsos biológicos e sua transformação, mas significado. Ela não era uma revolução contra o behaviorismo com o objetivo de transformar o behaviorismo em um caminho melhor de estudar psicologia acrescentando-lhe um pouquinho de mentalismo. Edward Tolman já tinha feito isso, sem nehum proveito.Ela era em seu conjunto uma revolução mais profunda que isso. Seu alvo era descobrir e descrever formalmente os significados que os seres humanos criam em seus encontros com o mundo, e então propor hipóteses a respeito do que implicariam os processos de produzir significados. Ela tinha como foco as atividades simbólicas que os seres humanos na construção e feitura de sentido não só do mundo, mas de si mesmos. Seu alvo era o de levar a psicologia a reunir esforços com suas irmãs no campo das ciências interpretativas, ciências humans e ciências sociais. Na verdade, sob a superfície de uma ciência mais oprientada para atividades computacionais, é isso precisamente o que está acontecendo - no início vagarosamente e agora com uma aceleração crescente. Por isso hoje encontram-se centros florescentes de psicologia cultural, antropologia cognitiva e interpretativa, linguística cognitiva, e, acima de tudo, um empreendimento mundial crescente que se ocupa como nunca, desde os tempos de Kant, com a filosofia da mente e da linguagem.
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A revolução cognitiva, tal como concebida na origem, requereu virtualmente que a psicologia juntasse forças com antropologia e linguística, filosofia e história, até mesmo com as diciplinas jurídicas. Não é surpresa nem acidente que naqueles primeiros anos o conselho cosultivo do Center for Cognitive Studies (Centro de Estudios Cognitivos) de Harvard incluisse o filósofo W. V. Quine, um historiados da cultura, H. Stuart Hughes, e um linguista, Roman Jakobson. Ou que os investigadores do Centro houvesse quase tantos filósofos , antropologistas e linguistas como psicólogos propriamente ditos - entre eles, expoentes do novo construtivismo como Nelson Goodman.
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A revolução cognitiva como foi originalmente concebida juntou forças com a antropologia e a linguística, a filosofia e a história, até mesmo com as disciplinas jurídicas. . Não era surpresa encontrar naqueles primeiros anos um filósofo com W. V. Quine, Um historiador da cultura como H. Stuart Hughes, e um linguista como Roman Jakobson no conselho consultivo do Centro de Estudos Cognitivos em Harvard.
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Eu acho que é preciso deixar claro de nós não queríamos reformar o behaviorismo, mas substituí-lo. Ou, como meu colega George Miller colocou alguns anos depois: "Fixamos nosso novo credo na porta [alusão à fixação das teses de Lutero na porta da catedral, ato que iniciaou a reforma protestante, N. T.] e esperamos para ver o que iria acontecer. E tudo foi muito bem; tão bem, na verdade, que no fim nos tornamos vítimas de nosso sucesso.

George Miller, um pouco de história I

Volto à busca da Luciana. Ela, certamente, queria saber quem é este tal George Miller. Uma curiosidade que se justifica. Parece que Miller não é muito conhecido nos meios pedagógicos. Mas os educadores que hoje lêem Piaget e Vygostky têm uma grande dívida para com Miller e outros pioneiros da psicologia do conhecimento. Pouca gente tem hoje uma consciência clara da dificuldade pelas quais passaram os pioneiros da batalha contra o positivismo que dominou a psicologia até a década de cinquenta. Num livro clássico do construtivismo - Schooling and the Acquisition of Knowledge, 1977 - um dos editores da obra, R.C. Anderson, faz a seguinte observação:

Um grande número de cientistas sociais americanos apenas muito recentemente se convenceu de que os pressupostos de suas visões tradicionais do mundo estavam fundamentalmente erradas. Eles eram empiricistas tanto no sentido filosófico como metodológico do termo. Ou seja, viam o organismo humano como algo conduzido por 'inputs' sensoriais. Na psicologia tradiocional dizia-se que os estímulos 'evocavam' e mesmo 'controlavam' as respostas. Sempre se supôs que as estruturas, processos e padrões de ordem superior podiam ser entendidos como concatenações de unidades simples, mas pouco progresso acontecera no sentido de acabar com tal interpretação. Chomsky (1957) desferiu um golpe forte contra o behaviorismo, demonstrando que é logicalmente impossível explicar a proficiência linguística em termos de cadeias de estímulo e resposta. (...) Mas educadores como Bruner (1960) e Ausubel (1962), pioneiros do construtivismo nos EUA [..] eram vozes que clamavam no deserto, trabalhando fora dos caminhos predominantes, ignorados por quase todo mundo, e perseguidos por alguns. (p. 416/7)

Os pioneiros das ciências do conhecimento tiveram grandes dificuldades para superar a poderosa organização de uma psicologia cujas bases eram fenômenos observáveis e mensuráveis. No Brasil, no começo dos anos setenta, falar de uma psicologia interessada em pensamento e consciência era quase impossível. Num congresso de psicologia em 1971, vi um pobre estudante sendo vaiado por mais de cinco minutos porque tentou apresentar um estudo que continha a palavra consciência no título. Miller, ao lado de Jerome Bruner e outros, começou sua carreira em tal ambiente e lutou muito para propor um novo caminho para a psicologia da educação, o caminho hoje triunfante do consrutivismo. Numa próxima postagem vou contar um pouco mais dessa história citando observações de Jerome Bruner.

Friday, May 27, 2005

Computadores, Web & George Miller


Solicitei às minhas alunas do 4° de Pedagogia leitura de um artigo clássico de George Miller: Computadores na educação: uma visão não orwelliana. O texto é muito interessante, escrito no começo dos anos oitenta ainda tem atualidade surpreendente. Luciana dos Anjos, uma de minhas estudantes, tentou , em seu blog, fazer um pequeno levantamento de como George Miller aparece na Web. Não foi inteiramente bem sucedida. Há milhares de Georges Miller no mundo www. O mais afamado hoje em dia é um deputado pelo estado da Califórnia que nada tem a ver com o velho e bom George A. Miller da psicologia e ciências do conhecimento, autor do texto seminal The Magical Number Seven: Plus or Minus Two: Some Limits on Our Capacity for Processing Information, publicado em 1956 na Psychological Review.


Para que toda essa conversa? Para mostrar duas coisas: 1. não é fácil, sem algum conhecimento prévio, fazer levantamentos de informação no espaço web; 2. Miller é uma das celebridades das ciências do conhecimento e tem uma obra que vale a pena conhecer. O artigo que recomendei situa algumas direções importantes em termos do uso de computadores em educação, ressaltando que humanidade e natureza são dimensões que não mudam substancialmente com o advento dos "cérebros eletrônicos".

Dodges no Brasil

Na foto, de Bárbara Dieu, professora do Liceu Pasteur, aparecem Bernie e June Dodge à direita, Cristiana Assumpção, do Colégio Bandeirantes, no centro, eu (Jarbas) e minha mulher (Ana) à esquerda. O encontro aconteceu momentos antes da palestra do Bernie sobre WebQuests e Aprendizagem Cooperativa, no Senac Consolação, dia 18 de maio de 2005. Essa nova vinda do Bernie ao Brasil iluminou de modo muito especial nosso entendimento de como planejar e usar WebQuests em educação. Agradeço minha amiga Bárbara Dieu pela gentileza da remessa da foto.



Posted by Hello

Tuesday, May 10, 2005

Poder dos Blogs

Reproduzo aqui citação que minha amiga Carmé Barba, educadora espanhola, fez na lista de discussão da Catalunha sobre webquests..

extret del blog de Rafael Robles http://vidadeprofesor.blogia.com/

"Queridos estudiantes: Jamás permitáis que anulen vuestras ideas o que impidan que frenéis a los que van avasallando por el mundo, haciendo de éste una inmensa bola de dolor. Tenéis el enorme poder de hacer de este planeta un lugar mejor y esto se empieza criticando con fiereza y a la cara a los que sólo dan sufrimiento a las gentes. Cuando uno calla ante la injusticia se convierte en cómplice de la misma. ¡Romped el silencio y decid las cosas con educación pero con rigor y firmeza! ¡Eliminemos la estupidez del mundo!"El poder de les idees? , el poder dels blogs? , el poder d' internet?

Sunday, May 08, 2005

Fundo fantástico.

Posted by Hello

Microcontos do Zeca

Mais um autor no time: Zeca Ildefonso. Reproduzo aqui mensagem e microcontos enviados por ele:
"Professor, Grande a idéia do microconto. Se a coisa crescer, o que acredito, poderiamos juntar tudo e pensar na publicação de livro. Por exemplo;" Os primeiros mil microcontos". Até eu cometi uns. Lá vai:

Bebia muito. Faliu. Bebera o bar.

Comia feijoada como um porco. Era praticamente um canibal.

Sempre andou direito mas por linhas tortas. Tinha 14 graus de miopia.

Abraço. Zeca "

Saturday, May 07, 2005

Exemplo de WebGincana

Estou desenvolvendo com minhas alunas de Pedagogia um modelo de organização de informações para a aprendizagem de fatos com o apoio de recursos Web. Há algumas razões para isso.

  • Primeiro, a sugestão docente "pesquisem na internet" é um convite a naufrágios no grande mar da rede mundial de computadores ou um incentivo ao corte-e-cole. É preciso ter "método" para usar Internet em educação. O espontaneísmo do "pesquisem na Intenet" certamente não é um "método".
  • Segundo, há necessidade de criação de diversos modelos que possam servir de referência para professores que queiram utilizar a Internet com bom aproveitamento e autorando suas propostas.
  • Terceiro, há necessidade de investigações que mostrem caminhos adequados para uso da Internet na aprendizagem de diferentes tipos de conhecimento.
  • Quarto, é preciso que nossos alunos aprendam a ler na Internet; não apenas a "ver" sites.
  • Quinto, é tarefa docente selecionar sites de qualidade para enriquecer as "pesquisas" dos alunos.

Para conteúdos mais exigentes em termos de habilidades cognitivas já existe um modelo bem conhecido, o modelo WebQuest. Mas ainda não existe nada muito bem estruturado para a aprendizagem de conteúdos factuais (aqueles itens de informação que precisam ser apenas armazenados ou reconheidos pelos alunos). É nessa faixa que estamos trabalhando. A inspiração vem do modelo Scavenger Hunts, bastante utilizado por professores americanos. Mas, ao utilizarmos o termo WebGincana, quisemos acrescentar às tradicionais caças ao tesouro elementos mais dinâmicos de jogos, além de sugerir algumas atividades extra-computador para fazer jus ao espírito de uma gincana.

Aqui não é espaço adequado para mais explicar o que entendemos por WebGincana. O melhor é exemplificar. Por isso convido o leitor a dar uma olhada numa WebGincana feita por Luciana, Larissa e Regina, minhas alunas de Pedagogia.

Microcontos: novos autores

Microcontos: isso pega. Velhos companheiros de trabalho me mandaram mensagens interessadas e interressantes sobre microcontos. Mais que isso: muitos deles produziram algumas jóias. Publico aqui parte dessa produção.

A música enchia o ambiente, mas a sala estava vazia. Imaginei que você voltaria logo. (A. Morales)

Ele falou: me dói a alma. Ela lhe deu um beijo prá iniciar a cura. (Pablo Rico)

Atendeu a porta pela janela. Afastou a cortina, fez um sinal com o indicador e voltou à sua rotina. (P. Pelarin)

Ao comemorar a premiação com os amigos, bebeu o prêmio. (F. Cordão)

Viajou para aprender nova língua. Ficou mudo. (F. Cordão)

Belos ensaios de microcontos. Espero que os autores aqui publicados e outros companheiros enviem mais contribuições. O formato é um exercício atraente de escrita econômica e elegante.

Monday, May 02, 2005

Mais microconto

Sem ilusões:

Recebeu flores murchas. Era um amor maduro.

Sunday, May 01, 2005

Microcontos

Microcontos, item da cultura blogueira, é uma história contada ou sugerida com economia de palavras. Nemo Nox, premiado blogueiro, está editando uma página de microcontos, a casa das mil portas. Para Nox, microcontos são histórias contadas com o máximo de cinquenta letras (uma concepção que exige muita economia verbal). Há autores que acham que não é preciso ser tão econômico, colocando o limite máximo em três linhas de texto. Essa parece ser a concepção de Ana Paul, autora de microcontos deliciosos.

Acho que microcontos é uma forma de desafiar escreventes do espaço Web para que estes aprendam a expressar-se de um modo adequado nas novas mídias. Texto curto, mas prenhe de significados, é uma exigência para quem queira produzir comunicações escritas para a tela. Por essa razão, estou desafiando minhas alunas a produzir em seus blogs pelo menos um microconto. Aguardo com alguma ansiedade os resultados.

Para dar bom exemplo, ensaio aqui alguns microcontos, todos com a economia verbal definida por Nemo Nox:

  • Não sabe o segredo. Esqueceu as memórias dentro do cofre.

  • Ela passeia no shopping, mas compra na 25 de março.

  • Virou manchete. Sempre foi notícia ruim.

  • Era um doce dietético, sem açúcar, sem afeto.