Saturday, November 19, 2005

Aprendendo com textos IV

As Atrações do Sherlock


Lacunas ou palavras embaralhadas num texto editado no Sherlock convidam o aprendiz a usar sua gramática “natural” em todos os níveis, de acordo com os problemas que vá encontrando pelo caminho. Numa frase como “um par ____ sapatos”, quase todos os leitores vão dizer que falta um de para ligar par com sapatos. Os conhecimentos de sintaxe oferecem pistas bastante claras para qualquer sherlock que estiver resolvendo o problema. Mas há questões mais complicadas. Numa frase como “o pastor _______ o rebanho”, que palavra pode substituir a lacuna existente? Quase certamente, um detetive das palavras saberá que a lacuna deve ser ocupada por um verbo. Mas qual? E o problema pode ser bastante difícil se o investigador não souber que tanger o rebanho é uma das atividades de um pastor. Ou seja, o uso da gramática “natural” continua a facilitar a investigação do detetive, mas a ausência de um vocabulário mais rico pode complicar as coisas. Neste ponto, talvez o investigador do texto precise de algum socorro (uma dica de vocabulário, por exemplo, pode ajudar o detetive a chegar à solução “o pastor tange o rebanho”.). Toda essa explicação possivelmente deixa claro que o ambiente do Sherlock pode oferecer oportunidades para aprendizagens muito dinâmicas.


Voltemos ao tema metacognição. É bastante provável que, ao utilizar estratégias baseadas naquela gramática “natural” e inconsciente, aprendida na infância, o detetive das palavras vá percebendo o conteúdo de seus conhecimentos, assim como de seus modos de pensar. Essa é a principal pretensão do Sherlock: formar pensadores que tenham consciência de seu próprio pensar. Quais as vantagens disso? São muitas. Tomar consciência da gramática “natural” ajuda as pessoas a entenderem melhor a gramática acadêmica que se ensina nas escolas. Ajuda o pensador a melhor entender os textos que encontra pela frente. Desenvolve capacidades de análise muito necessárias em termos de domínio de uma matéria ou disciplina. Melhora a auto-estima de quem descobre que sabe muito mais do que imaginava. Faz com que as pessoas comecem a se ver como senhoras de seu idioma, não como gente dominada por discursos que não entende (nota). Além disso, abre o apetite dos detetives para outras aventuras investigativas. Tudo isso, provavelmente, vai ajudar os aprendizes a melhorarem seus desempenhos nos campos da leitura e da redação.

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