Saturday, October 25, 2008

Música e Política

Num domingo, pouco antes do primeiro turno da eleição paulistana, vi carreata de certo candidato a vereador na rua da Glória, Liberdade. O que me chamou atenção foi a música de campanha do aspirante a edil, péssima. Reagi de imediato, pensando:

- "Não voto neste cara, nem a pau".

Reagi sem conhecer plataforma política e vida do candidato. A música me incomodou demais. Quem aceita uma barbaridade sonora como aquela para animar seus eleitores é um perigo para a cultura. Depois tive um pensamento de complacência:

- "Vai ver que o cara sofre de amusia congênita".

Mesmo assim, continuo achando que nós, eleitores, não merecemos barbaridade como aquela. Quanto ao candidato, acho que o dito deveria abandonar a carreira política e converter-se em sujeito dos estudos de Isabelle Peretz.

Mas a política está proporcionando oportunidades para a criação de música muito interessante. É o que vem acontecendo na campanha eleitoral americana.

Acabo de ver no Youtube uma das produções musicais dedicadas a Sarah Palin (Deus nos livre se o Mcain for eleito, falecer em seguida, e essa barbie das geleiras assumir a presidência da Gringolândia!). O VT é uma peça composta por supostos vizinhos russos da candidata. Melodia aceitável. Extremamente hilária. Os personagens são caricacturas de russos, com corte de cabelo dos anos cinquenta (A cabeleira de um deles, certamente, foi fixada com gumex!). O ambiente também é um cenário de lugar decadente e de mau gosto (a Rússia do capitalismo selvagem?). Mas chega de conversa. O bom mesmo é ver a obra:

Tuesday, October 07, 2008

Leitura atlética



Acabo de escrever um texto que faz referência aos muitos problemas da aprendizagem da leitura em nossos dias. E no processo de escrever, lembrei-me de um antigo companheiro de república nos idos de 68/69.

Usávamos um pequeno escritório do casarão para estudo. Minha mesa ficava ao lado da mesa do citado companheiro. Quase todos os dias eu observava uma cena engraçada e dolorosa: a atividade de estudo do moço.

Antes de falar da graça e da dor que testemunhei, preciso apresentar o personagem. Ele era um atleta. Zagueiro central titular do time da escola. Não era um craque, mas seu vigor físico e vontade impunham respeito aos mais brilhantes dianteiros. Era um menino nascido na roça, filho de sitiantes italianos. Fizera um primário abreviado (três anos) com professores leigos. Quando começou o ginásio na cidade ainda não estava completamente alfabetizado. Aos trancos e barrancos chegou ao ensino superior.

Volto à graça e à dor. Qualquer texto de estudo, superficial ou profundo, fácil ou difícil, era um desafio quase que insuperável para meu companheiro. Mas ele era um moço voluntarioso e valente. Não desistia. Tratava os livros como se fossem atacantes a serem anulados dentro da área. Pegava-os com força, segurando-os com ambas as mãos. E fazia da leitura uma atividade física, um briga contra as letras. Textos mais difíceis eram lidos repetidamente em voz alta. Textos mais fáceis eram lidos sem som aparente, mas com lábios que não paravam de se movimentar. E parecia que aquelas mãos fortes iriam estraçalhar os pobres livros.

Essa história, a meu ver, ilustra a necessidade de uma boa alfabetização no primário. Perdão! Nos primeiros anos do ensino fundamental.