Thursday, November 10, 2005

Aprendendo com textos I

Elaborei algumas reflexões sobre a questão do aprender a ler e aprender com a leitura a partir de experiências com o software Sherlock e de conversas com David Carraher durante o processo de produção do citada ferramenta. Vou publicar tais reflexões aos pedaços. Se alguém quiser me ajudar a melhorar tais reflexões ficarei imensamente agradecido. Aqui vai o primeiro pedaço:


A Gramática Natural


Por volta dos seis ou sete anos, as crianças já dominam praticamente toda a gramática de sua língua nativa. Essa , segundo os lingüistas, é uma façanha intelectual notável. A estrutura de qualquer idioma é extremamente complexa. Por que então a maior parte das pessoas odeia a gramática que lhe foi ensinada nas escolas?


A gramática dominada por crianças em idade pré-escolar não é constituída por regras formais e por um vocabulário esotérico. Ela funciona como algo natural que não precisa ser ensinado. As crianças aprendem-na sem esforço aparente. A gramática ensinada nas escolas, pelo contrário, é artificial e de difícil aprendizagem. Essa situação estranha acontece porque os sistemas educacionais enfrentam muitas dificuldades para reconhecer, utilizar e trabalhar com os conhecimentos que as crianças já dominam antes de chegar às escolas. Culpa dos educadores? Provavelmente não. Articular conhecimento prévio com o conhecimento a ser aprendido não é uma tarefa banal. Exige muito dos profissionais de educação. Uma das exigências, no caso, é a de ativar as capacidades metacognitivas dos aprendizes. Ou seja, a de ajudar quem aprende a tomar consciência de seus próprios conhecimentos, de suas capacidades cognitivas, de suas estratégias de aprendizagem. A gramática aprendida na primeira infância, assim como muitas outras coisas que nos capacitam a levar a vida em nosso mundo, é inconsciente. Em outras palavras, nós não temos idéia do quanto sabemos, nem de como funciona nosso sistema de saber. Pensar sobre o próprio saber (metacognição) é uma arte que requer muita técnica e ferramentas especiais

2 comments:

Anonymous said...

Olá, professor:
Este tema é ótimo.Já me deu muito pano prá manga.
Acho que o problema não é do professor.É da formação do professor, que em sua maioria desconhee o que é metacognição.Daí a dificuldade que o profisisonal tem em entender as estratégias de uso da linguagem e consequentemente, de contribuir para que o aluno as compreenda. Por isto é mais fácil listar regras da gramática normativa.
Gostaria muito de conhecer o soft do Carraher. Onde pode ser enecontrado?

Jarbas said...

Alô Fátima,

Obrigado pelo comentário. Estou enviando para seu e-mail uma resposta mais circunstanciada sobre onde encontrar o soft do David Carraher. O material é uma publicação da Editora Senac.sp e foi reeditado recentemente (2004) uma vez que a primeira versão já não rodava mais nas máquinas que temos hoje.

Em mais "capítulos" vou continuar meus comentários sobre o aprender a ler e o aprender lendo. Não sou um profissional das letras. Por isso, meus comentários são coisas de leigo. Por outro lado são registros resumidos de muitas conversas que tive com o criador do Sherlock.

Abraço,

Jarbas