Friday, September 11, 2009

Para lembrar Allende...

Hoje é 11 de setembro. Muita coisa vai aparecer na imprensa sobre o WTC. Quase nada será dito sobre o golpe no Chile e assassinato de Allende. Para lembrar é bom ouvir uma das melodias de Pablo Milanes. Faça isso e convide amigos para fazer o mesmo.

Monday, May 18, 2009

Arquitetura e Educação

Vejam novo post sobre o assunto lá no Boteco Escola

Tuesday, May 12, 2009

Quem foi?


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Acabo de descobrir este site. Montei um questionário. Com erros de digitação. Mas dá para entender.Aguardo votos para ver quem resolve o mistério...

Monday, April 20, 2009

Música e emoção

Me pediram para escrever um artigo sobre música e educação. Tema difícil para mim. Não sou músico. Sou educador, mas não gosto da maior parte das coisas que vejo sobre música e educação. Acho que muito do que se diz sobre o assunto anula o sentido mais profundo da música: comunicar emoções profundas. Por essas razões,ando refletindo sobre o assunto e ouvindo muita música. Acho necessário ilustrar o que vou escrever com exemplos que mostrem grandes emoções rolando em eventos musicais. Mostro aqui um exemplo que certamente vou utilizar: Ginette Reno cantando num show dos 400 anos da cidade de Québec.

Thursday, April 16, 2009

Música de Silvio Rodrigues

Há alguns dias sugeri numa aula de epistemologia que Mi Unicornio Azul, de Silvio Rodrigues, é uma canção que pode ser ouvida e lida como uma proposta de busca pela verdade. Ela é uma versão poética do grito agotiniano "inquietum est cor nostrum". Mas não estou aqui para mais filosofares. Estou aqui para reafirmar que a obra do Silvio é imperdível.

Em minha aula utilizei versão do Unicornio cantada pelo cantautor cubano num show em Buenos Aires. O único acompanhamento é o de um violão (do próprio Silvio), com uma batida de quem é do ramo. Depois descobri que há uma versão com um acompanhamento de piano que precisa ser apreciada. Não paro de ouvi-la. E cada vez que a ouça, acho-a mais bonita.

Para quem aprecia boa música, aqui está o Mi Unicornio Azul.

Wednesday, February 25, 2009

Educação e música: primeira lição



Volto ao livro de Peter Perret. Desta vez vou navegar pelo capítulo 2,
Lessons from the Pied Piper. Como de costume, não referenciarei a matéria a cada passo. Apresentarei as idéias num texto meu, mas o leitor sabe que faço aqui um resumo interpretativo desse livrinho genial sobre música na educação. Sem mais delongas, vamos ao que interessa.

Cinco pessoas desconhecidas, carregando instrumentos musicais, entram na sala do primeiro ano primário. Sentam-se num semicírculo de cadeiras que estão próximas do quadro negro. Nada dizem. Preparam os instrumentos. Olham-se e começam a executar um peça musical. As crianças, sentadas no chão, olham para os músicos com muita atenção. Estão calmas e, ao mesmo tempo, escutam tudo com aparente prazer e curiosidade.

Assim que toca as últimas notas, o quinteto é aplaudido com entusiasmo. Debra, a flautista do grupo, dirige-se à classe. Apresenta-se e pergunta:

_ Quantas pessoas vocês vêem aqui?

Fácil. As crianças respondem:

_ Cinco.

Debra continua.

_ Como se chama um grupo musical de cinco pessoas?

Desta vez a resposta não vem e a flautista acaba dizendo às crianças que a resposta é quinteto.

Debra continua o diálogo mostrando sua flauta e tirando dela algumas notas. Pergunta se o instrumento faz os sons mais altos ou mais baixos do conjunto. As crianças respondem que a flauta faz sons muito altos. A flautista aproveita para fazer uma comparação. Lembra uma propaganda em que aparece um chihuahua. Incentiva as crianças a imitarem o latido do pequeno cão mexicano. Pergunta depois pelo cão que aparece no filme Beethoven. As crianças sabem que é um São Bernardo. Debra pede uma imitação do latido do cachorrão. As crianças tentam fazer aquele latido grave. Estabelece-se aí uma constatação: pequenos instrumentos (e cães) fazem sons altos; grandes instrumentos (e cães) fazem sons baixos.

Outra componente do quinteto, Cara Fish, entra na conversa. Seu instrumento é o oboé. Ela pede ás crianças para participarem de um pequeno experimento: colocar os dedos de uma mão junto ao pescoço e fazer um hummm. Pergunta-lhes o que sentem. Resposta: vibração. Cara continua o papo mostrando seu instrumento e solicitando comparações com a flauta de Debra.

O terceiro músico a se apresentar é Eillen Young, o clarinetista. Propõe mais comparações. Mostra partes de seu instrumento. Dialoga com as crianças sobre vibração da palheta e produção de som. Depois de Eillen, Kendal Wilson mostra seu curioso instrumento, o fagote. Maior que os outros. Com sons mais graves. Finalmente, Bob Campbell, o dono de um instrumento estranho, a trompa ou uma espécie de chifre metálico de carneiro, se apresenta. Mais sons. Mais comparações. Mais diálogo com as crianças.

Feitas as apresentações, começam as perguntas. E elas são muitas. As crianças querem saber tudo sobre os instrumentos, os sons que produzem e detalhes da vida dos músicos. O tempo voa. Os vinte e cinco minutos planejados para a conversa inicial já se foram.

Os músicos dizem que vão apresentar uma melodia bem conhecida. Pedem às crianças para acompanhar a execução sem cantar a música externamente. Pedem que a cantem "internamente". Pedem outra coisa: atenção para reconhecer qual instrumento inicia a peça musical. Finalmente, fazem outra solicitação: tentativa de acompanhar cada instrumento durante a execução. As crianças seguem atentamente a execução. Algumas movimentam os dedos, tocando instrumentos invisíveis. Todos memorizam que o oboé iniciou a música. Todos movimentam seus corpos acompanhando o ritmo.

A narrativa aqui apresentada mostra como acontece a primeira sessão dos encontros do quinteto de sopro com alunos de uma escola de ensino fundamental. No caso, a cena aconteceu na Arts Based Elementary School, em setembro de 2003. Desde 1995, esta cena é revivida no projeto Bolton.

As crianças vem de todas as classes e etnias da cidade. Muitas tem sérios déficits de aprendizagem. Os músicos nada sabem sobre isso. Não estão preocupados com essas diferenças. Estão ali para ensinar algo mais fundamental que diferenças raciais, econômicas ou sociais. O que estão comunicando é uma linguagem universal e muito antiga. O que as crianças estão fazendo é responder ao som da música com seus corpos e mentes da forma como nossa espécie humana evoluiu para fazer.

Pessoas que estiveram presentes em encontros do quinteto com as crianças enfatizam como a música ao vivo tem efeitos completamente distintos da música gravada. Ela tem uma riqueza maior, provoca grande interesse e curiosidade. Gravações tem o seu lugar em nosso mundo, mas não criam o efeito magnético que os músicos do quinteto provocam nas salas de aula.

A primeira sessão musical do quinteto tem uma raiz histórica respeitável. Recentemente foram descobertos instrumentos musicais, feitos de ossos de mamute, de mais de dezoito mil anos. Uma flauta de osso, com cerca de sete mil e quinhentos anos, achada na China, ainda produz música numa escala de sete notas. Indícios arqueológicos sugerem que já havia produção musical há uns cinquenta mil anos. Há bastante razão para se acreditar que nossos ancestrais que começaram a andar erectos liberaram a garganta para a produção musical. Isso situa a origem da música na casa de um milhão de anos ou mais.

Nossos ancestrais certamente se comunicavam por meio de sons musicais. Sons modulados devem ter funcionado como forma de comunicação para agregar membros da tribo, para planejar ação conjunta numa caçada, para indicar local com abundância de alimentos. Esses papéis ainda continuam a ser desempenhados em nosso mundo, com algumas transformações. As tribos de hoje, por exemplo, podem ser torcidas de futebol...

Cientistas como Isabelle Peretz, da Universidade de Montreal, sugerem que a núsica é instintiva. Nascemos musicais. Apreciar certos tipos de música, assim como produzí-los, são formas de concretizar um potencial que já vem instalado no organismo.

Sons modulados também devem ter sido usados pelas mães de nossos distantes ancestrais nas comunicações com seus filhos pequenos. Esta, aliás, continua a ser uma forma de comunicação de importância fundamental entre mães e filhos na primeira infância. Todos nós conhecemos e quase certamente já usamos o "manhês", um idioma no qual musicalidade é mais importante que o significado das palavras utilizadas.

A música provavelmente desempenhou papel importante no desenvolvimento da linguagem. Desempenhou também papéis relevantes na coesão social e em eventos de comunicação do dia-a-dia. Ela não era e não é tão somente um ornamento ou item de entretenimento.

Meu resumo interpretativo do segundo capítulo do livro de Perret vem até aqui. Para encerrar este post, julgo que cabem algumas observações pessoais despertadas pela leitura da obra. Vou apresentar tais observações como destaques.

  1. Os conteúdos presentes nos diálogos entre o quinteto e as crianças são musicais. Não são matéria de outra área amaciada com música. Conceitos sobre diferenças e similaridades são conversados a partir de observações sobre sons produzidos pelos instrumentos musicais. Já na primeira sessão, o quinteto explora conceitos musicais que podem gerar analogias esclarecedoras com conteúdos de outras áreas de saber
  2. A música apresentada é profissional. Essa circunstância mostra a vantagem de uma educação sobre música que se funda em produções de qualidade.
  3. A música apresentada não nasce de pesquisa sobre repertório da cultura de onde vem as crianças. Ou seja, o quinteto não toca a"música das crianças". Toca uma música de caráter universal, pois os criadores do projeto Bolton acreditam na universalidade da música. Isso sinaliza que apesar de grandes diferenças, as crianças são tratadas como gente capaz de apreciar e entender música sem marcas individuais, locais, étnicas, de classe social. Esta direção é um bom ponto de partida para considerações sobre a necessidade do universal nos programas de educação.

Sunday, February 22, 2009

Cantoras Peruanas

O título deste post poderia ser outro: IgnorânciaTupiniquim. Uma coisa que aprendi há muitos anos é que nós somos muito ignorantes. Pouco sabemos de outros povos, inclusive de nossos vizinhos da América do Sul. Em encontros com colombianos, chilenos, urugauaios, peruanos e argentinos sempre fiquei impressionado com o nível de informações culturais, históricas, políticas e econômicas que ele tem sobre os países do continente. O Brasil, isolado, auto-suficiente, meio americano e meio francês, pouco ou nada sabe de los hermanos.

Nos últimos anos descobri parte da música de nosso continente. Descobri maravilhas musicais argentinas, chilenas e uruguaias. Descobri que a música peruana é muito rica e deveria ser conhecida - e apreciada - no Brasil. Ouvir música de povos de nosso continente pode ser uma aventura educacional interessante. Pode despertar interesse por culturas que estão ali, logo depois da fronteira.

Para não ficar só na constatação e conversa, faço aqui um convite: ouça quatro cantoras peruanas cujas vozes são um presente para ouvidos que gostam de escutar boa música.

1. Chabuca Granda

A grande dama da música peruana é Chabuca Granda. Compositora de clássicos e ótima intérprete, Chabuca é a referência mais importante da canção no país dos incas. Provavelmente, sua canção mais famosa é José Antonio. Ouça-a na versão que segue.



2. Tania Libertad

Outra grande cantora peruana chama-se Tania Libertad. Depois de um começo de carreira em seu país, acabou indo para o México de onde se projetou internacionalmente. Ouça-a aqui num dueto com Joan Manoel Serrat em Papel Mojado.



3. Susana Baca

Todas as cantoras aqui apresentadas tem ligações com a música negra peruana. Mas Susana Baca provavelmente é que está mais próxima das raízes africanas. Escolhi Poema como música que pode dar uma idéia da arte de Susana.



4. Eva Ayllon

Eva Ayllon canta ritmos peruanos de toda parte. Canta música negra. Canta grandes sucessos de música latina. Escolhi um tondero, Esta es mi tierra, para apresentar Eva nesta mensagem.

Sunday, February 15, 2009

Ecos da minha juventude

Carlos Gonzaga - Diana - Cigana Luiza

Em listada qual participo, falei de Carlos Gonzaga. E falei de canção que marcou o início de minha adolescência: Diana. E não é que é possível encontrar ecos da canção famosa e do grande fazedor de sucessos, Carlos Gonzaga? Acho que só entenderão isso os maduros contemporâneos meus.

Educação e música: o começo


Depois de algum tempo, volto ao livrinho do Peter Perret: A Well-Tempered Mind - Using music to help children listen and learn. Falo aqui do primeiro capítulo: Fanfare. Escreverei sem referenciar a obra. O que segue é, ao mesmo tempo, resumo e comentário pessoal.

Não se conhece alguém que tenha embarcado na música para ficar mais inteligente. O amor pela música explica-se por amor à arte, por vontade de expressar sentimentos que não podem desabrochar de outra forma. A música traz satisfação pessoal, expressa sentimentos profundos, é inefável. A música coloca nosso corpo em movimento. A música não precisa de outra justificativa que ela própria.

A música sempre foi parte integral da educação. Nossos ancestrais [principalmente os gregos da era pré-homérica] sabiam disso intuitivamente. Infelizmente música e educação geral se separaram nos sistemas escolares modernos. Em parte isso explica (e é resultado da) a má qualidade da educação. Vista como "arte", a música converteu-se em artigo de luxo ou atividade marginal na educação escolar.

Em 1996, os alunos do terceiro ano do ensino fundamental da Bolton Elementary School tiveram notas sofríveis no teste estadual de desempenho escolar. Apenas 40% deles chegaram ao mínimo esperado ou acima desse patamar. Mas o fato não era surpreendente. Bolton era uma escola com a maioria dos alunos pertencentes a grupos economicamente desfavorecidos ou com sérios problemas sócio-psicológicos.

Um ano depois, cerca de 90% dos terceiranistas de Bolton obtiveram notas iguais ou superiores ao mínimo desejável no exame estadual. Nada havia mudado no perfil dos estudantes de Bolton. Nada havia mudado na organização da escola ou em seus recursos. A única mudança havida fora a exposição dos alunos a um programa musical conduzido por um quinteto de sopro da orquestra sinfônica de Wiston-Salem. O programa, iniciado em 1995, consistiu em colocar os músicos do quinteto como "residentes" na escola.

A "residência" do quinteto resultava em exposição musical de meia hora, duas ou três vezes por semana, nas classes dos primeiros anos do ensino elementar de Bolton. O quinteto ingressava nas salas e executava uma peça curta. Depois disso, as atividades podiam variar de acordo com um plano previamente combinado com a professora da turma. Tais atividades podiam incluir explorações sobre as particularidades de cada instrumento (diferenças nos sons, sons mais graves, sons mais agudos, relação entre tipo de som e tamanho do instrumento etc.). Podiam incluir também explorações de caráter conceptual ilustradas pela música. Exemplo: descoberta de opostos -longo/curto, grave/agudo, alto/baixo. O quinteto não foi à escola para ensinar musica, mas para ensinar por meio da música. Essa observação merece ser explicada.

Há algumas alternativas para a música na escola. Uma delas é a de voltar aos velhos tempos e ter música no currículo como uma disciplina importante (tão ou mais importante que o estudo do idioma nativo e da matemática). Outra é a de utilizar música para o ensino de um outro conteúdo. Exemplo disso é utilizar uma melodia muito conhecida para aprender o alfabeto em inglês. Finalmente há a opção de utilizar música como uma produtora de analogias que podem iluminar certos conteúdos de outras disciplinas. A primeira alternativa ainda é um sonho.A segunda alternativa é a visão hegemônica (e muito pobre) de utilização da música no espaço escolar. A terceira opção é um modo criativo de articular conteúdos musicais com conteúdos de outras disciplinas. É a opção desenvolvida pelo projeto Bolton.

Por causa dos resultados obtidos, o projeto Bolton tornou-se conhecido mundialmente. Mas a associação da música com determinados conteúdos do programa escolar ainda não tem uma de caráter estritamente científico. As questões que seguem já tem certa resposta positiva a partir da experiência dos músicos do quinteto e, ao mesmo tempo, orientam observações que vem sendo feitas por pesquisadores nas áreas de educação e neuropsicologia:

  • O trabalho dos músicos na sala de aula afetou diretamente resultados no campo da aprendizagem de matemática?
  • A canção A Little Night Music criou um número expressivo de leitores brilhantes?
  • O que ouvir música tema ver com aprender a aprender?
  • Como escutar música melhora atenção, capacidade de concentração e aprender a escutar?
Essas e outras questões parecidas sugerem modos de trabalhar música no espaço escolar. Essas e outrras questões animaram e animam o trabalho de músicos profissionais da orquestra sinfônica de Wiston-Salem em seus contatos com as crianças da escola Bolton.

Friday, February 06, 2009

Monday, January 26, 2009

Cerveja Aprendente

Música e melhoria da aprendizagem:projeto Bolton

Continuo a fazer um registro detalhado de minhas leituras de A Well-Tempered Mind:Using music to help children listen and learn. Em post anterior, prometi que iria elaborar um apanhado do primeiro capítulo. Esqueci-me do Prefácio. Assim, antes de entrar na obra propriamente dita, é preciso dar conta da apresentação feita pelo autor, Peter Perret.

A obra narra a aventura de um quinteto de sopro que foi fazer música numa escola cujos alunos revelavam dificuldades de aprendizagem. Tal aventura musical foi planejada por Peter Perret, maestro da orquestra sinfônica de Winston-Salem, Carolina do Norte. Tudo começou nos primeiros anos da década de 1990 em conversas do maestro com seus músicos. No período letivo de 1994/5, o quinteto começou a concretização do projeto em Bolton, uma escola pública. Os alunos eram crianças do último ano do pré-primário e das três primeiras séries do ensino fundamental. Os resultados foram melhor que o esperado. As crianças que passaram por um currículo apoiado pelas atividades do quinteto revelaram progressos notáveis em linguagem e matemática.

Perret sempre se interessou por estudos no campo da neurociência, particularmente aqueles que investigam relações entre educação musical e funcionamento do cérebro. Há uma ou outra pesquisa que mostra certos ganhos intelectuais resultantes da educação musical. Mas Perret nos aconselha prudência na hora de considerar recentes descobertas no campo do funcionamento do cérebro. Segundo o autor, a paisagem nessa área da ciência vem mudando muito rapidamente. Por isso ainda não é possível afirmar com certeza que áreas do cérebro são afetadas pela música. Um dos problemas encontrado é o de que “os cientistas estão descobrindo que diferentes partes do cérebro estão envolvidas em muitas redes usadas no processamento de diversas ações, percepções e idéias”. Por isso é difícil indicar especificamente onde a música atua. Por outro lado:

... a música pode melhorar a agilidade cognitiva – ou seja, a capacidade de gerenciar informações em conflito e de escolher aquela que se aplica a determinada situação.
É quase certo que o desempenho musical com as demandas de leitura de partituras, de memória, de controle motor, de coordenação, e de expressividade emocional, pode eventualmente preparar as pessoas para uma variedade de funções perceptuais e executivas, levando a uma agilidade e competência cognitiva.


No trecho citado, Perret, coloca uma direção que pode gerar muitas idéias promissoras sobre o papel desempenhado pela música no desenvolvimento de algumas de nossas capacidades intelectuais. A proposta do maestro nada a ver com certa tendência de uso da música em educação com objetivo de amenizar certos conteúdos e tornar a educação mais divertida. Ele propõe algo bem diferente; uma educação musical cujos efeitos melhoram atividades cerebrais que são importantes na apreensão de outros conteúdos.

Em vez de resumir ou comentar outras observações do autor sobre educação, música e cérebro, acho conveniente reproduzir aqui o original.

A aprendizagem multisensorial- ou seja, a aprendizagem por meio do uso de todos os sentidos, o que certamente é parte do que ensinamos [o autor se refere ao projeto Bolton] – usa fontes de informação em conflito e pode fazer com que o cérebro escolha aquela que importa. Articular essas fontes em conflito (ou complementares) deve causar a formação de redes [neuronais] mais amplas e mais ricas. A ciência esta estabelecendo as bases para explicar a experiência do quinteto. Pesquisadores interessados nas artes e em como as crianças aprendem estão encontrando sinais promissores de que melhorias como as descritas neste livro são fisiológicas e não apenas psicológicas. Este livro é apenas o começo.


Importantes líderes no campo da aprendizagem e do cérebro nos sugeriram que outras artes, abordadas de modo a criar interesse por parte das crianças, pode ter o mesmo potencial.


Para encerrar, tento pontuar as idéias-força de Peter Perret:

• A música é um conteúdo importante e indispensável para o desenvolvimento de nossas capacidades intelectuais.
• Aprendizagem musical, bem conduzida e profunda, resulta em melhorias sensíveis na aprendizagem de outros conteúdos.
• A melhoria do desempenho escolar, conforme se observa no projeto Bolton, é um objeto interessante de investigação no campo da neurociência. Os resultados de tais investigações, por sua vez, poderão enriquecer mais ainda a articulação entre a educação musical e outras dimensões do currículo.
• Embora a arte possa ser a sua própria justificativa em termos educacionais, as aprendizagens artísticas podem alavancar outras aprendizagens.

Volto à música. A contribuição de Perret certamente faz muita diferença. Ela apresenta um caminho que pode enriquecer a educação e, ao mesmo tempo, indicar rumos para aprendizagens mais prazerosas.

Saturday, January 24, 2009

Some day we will overcome

Posse do Obama. Confirmação do we can. Isso lembra muita luta na Gringolândia pelos direitos civis. Dá uma vontade danada de cantar de novo We Shall Overcome. Convido você para me acompanhar com o auxílio de Pete Seeger. E na fonte que vou reproduzir aqui, há uma estrofe imperdível, feita especialmente para a marcha de Selma para Montgomery. Cante comigo e Pete Seeger, depois de clicar na flechinha do ícone abaixo:

Friday, January 23, 2009

Música, Educação e Cérebro




Como prometi, começo aqui a comentar, com certo detalhe, a obra A Well-Tempered Mind : Using music to help children listen and learn, de Peter Perret e Janet Fox. O livro aborda a experiência coordenada por Perret, maestro de uma orquestra sinfônica, sobre a introdução de música no espaço escolar. Mas, não se trata de uma experiência qualquer. O maestro, convencido de que música pode fazer diferença na aprendizagem, colocou um quinteto de sopro dentro de uma escola de ensino fundamental cujos alunos tinham notas muito abaixo da média em testes estaduais de desempenho escolar.

O projeto de Perret não se confunde com ensino de música nem com o uso dela para ensinar determinados conteúdos. O quinteto foi à escola para proporcionar às crianças experiências musicais articuladas com temas relevantes do currículo.

Neste post, vou registrar as principais idéias apresentadas na Introdução da obra. Mas antes de entrar no conteúdo, algumas informações são precisas.

Quem faz a Introdução não são os autores, mas o cientista, Frank B. Wood, da Wake Forest University School of Medicine. E há uma razão para isso. Um ano depois de iniciada sua experiência musical na escola, Perret solicitou a acadêmicos de uma faculdade de educação acompanhamento para dar consistência científica ao que o quinteto estava fazendo. Os educadores não se interessaram. O maestro então procurou apoio em outra parte, em departamentos de neurociência. Os cientistas da área viram a experiência com muito interesse. Proporcionaram a Perret o apoio investigativo que ele estava buscando. Por isso, na hora em que o livro estava sendo escrito, o Dr. Frank Wood se prontificou a fazer uma introdução.

A partir daqui, vou elaborar um texto que procura resumir e destacar os principais idéias desenvolvidas por Wood.

Não é fácil determinar a natureza da música, ou os motivos pelos quais qualquer um deve conhecê-la ... A primeira questão é se a música é ou não é parte da educação. (Aristóteles em Política)


Todo mundo sabe que a música é importante. Mas ninguém sabe exatamente por que. E o velho Aristóteles não ignorava isso. Pouca coisa mudou, aliás, nestes vinte quatro séculos que nos separam do grande filósofo grego. Por isso é bom seguir os passos dele. O velho Ari indica caminhos interessantes para começar uma investigação sobre o sentido da música para nossa vida.

É interessante notar que as observações de Aristóteles sobre música estão em sua obra Política, não no Tratado da Alma. Esta última abordava temas que hoje classificamos como psicológicos. O grande gênio grego pensava que a música, mais que uma questão psicológica, é um assunto relativo à educação dos jovens e por isso relacionado com a cidadania responsável. Para ele, o poder da música devia-se a sua capacidade de : relaxar, construir o caráter e cultivar a mente. Par nós hoje essas qualidades parecem não fazer sentido. Mas é preciso entendê-las no contexto da Grécia clássica. Aristóteles vê a música como uma atividade de lazer. Como uma atividade de cultivo da mente.

Música, portanto, não é "trabalho". É atividade prazerosa de apreciação artística. Não precisa ser justificada por qualquer motivo externo. Ela é a sua própria justificativa. Como diz Wood:

Ao contrário da leitura e da escrita, que Aristóteles considera valiosas por causa da vantagem que trazem para a sociedade, uma vez que comunicam conhecimento explícito, a música não logra nada externo nem veicula conteúdo. Ela existe para ser apreciada por si mesma, o que é um benefício intelectual apenas para o indivíduo. Na terminologia aristotélica, a música não é nem útil nem necessária, ela é nobre.

A definição aristotélica realça a música como uma forma capaz de induzir estados mentais correspondentes a certas emoções. Não é preciso dizer se uma produção musical é triste ou alegre, ou se corresponde a outras emoções humanas. Sem necessidade de qualquer palavra ou explicação há uma trama entre a natureza de uma melodia e o estado mental que ela provoca. Essa característica é muito interessante no campo da neurociência, pois a música permite investigar estados mentais que dispensam conteúdo ou explicação prévia. Em Aristóteles a música é entendida como forma, como contorno mental das coisas.

A noção de forma proposta por Aristóteles é importante porque corresponde ao que hoje estamos chamando de competências cognitivas. E como não tem um conteúdo externo a carregar, a música é pura forma. Em termos educacionais, a hipótese a ser explorada é a de utilizar tais puras formas como capacidades mais gerais que podem apoiar aprendizagens em outras áreas. Em outras palavras, pessoas mais musicais talvez tenham facilidade para aprender determinados conteúdos que precisam ser acomodados em formas já dominadas "musicalmente" [essa possibilidade é explorada na experiência inspirada por Perret, e os dados mostram que os alunos que passaram pelo projeto melhoram consideravelmente seus desempenhos em inglês e matemática].

A sugestão do filósofo grego mostra um caminho para os estudos científicos no campo da neurociência. O começo da história não é necessário entender como as crianças aprendem música. Vale a pena utilizar aqui textualmente as palavras de Wood:

A essência da música, como forma sem conteúdo, é filosoficamente interessante, e ela fornece uma avenida promissora de pesquisa na neurociência cognitiva. Como as formas são registradas no cérebro, e como os estados emocionais ou mentais podem ser induzidos por tais formas, é uma uma questão muito boa que as ciências podem investigar de modo consequente, com bons resultados. É, porém, na educação que nós podemos estudar tal questão de modo mais promissor. Aqui já não falamos de cérebro mas de como uma dada experiência musical da criança influencia seu crescimento intelectual e desempenho escolar. Se Aristóteles estiver certo de que a música é sobretudo uma questão educacional, então o progresso mais rápido na neurociência cognitiva da música vai depender de estudos sobre aprendizagens das crianças. A maneira como a música "opera" na sala de aula, e os resultados que produz, terá muito que nos ensinar como a música "opera" no cérebro.


As discussões sobre aprendizagem e música acontecem dentro de duas diferentes molduras teóricas. Uma sugere que, assim como a linguagem, a música é uma capacidade "instintiva". Ou seja, desde o nascimento, nosso cérebro já tem qualidades que nos pré-dispõem para a música. Outra sugere que a música é consequência da aplicação de capacidades gerais e abstratas de nosso cérebro usadas também para resolver outros problemas. Embora ainda não existam dados suficientes para apoiar em definitivo uma ou outra alternativa, já se sabe que algumas capacidades linguísticas "inatas" guardam relação com algumas capacidades musicais.

Não importa muito qual das duas molduras se revelará mais consistente do ponto de vista científico. O que importa é que já há dados indicando que contato com a música, sobretudo em eventos que incluem execução, guarda correlação positiva com a melhoria na aprendizagem de certas dimensões de conteúdos escolares. Isso ficou evidenciado na escola de Bolton, local original do projeto conduzido pelo maestro Perret. Uma das coisas que certamente a exposição das crianças á música causou foi "conscientização" fonética. Tal conscientização é um pré-requisito fundamental para a aprendizagem da leitura. E em Bolton, as crianças que participaram das atividades do quinteto de sopro apresentaram aprendizagem de leitura muito superior às de outros alunos na mesma escola ou no estado.

Depois de construir pontes entre o pensamento de Aristóteles, o programa investigativo no campo da neurociência e a experiência de Bolton, Wood considera algumas direções importantes em termos dos significado da educação musical:

  1. O que se aprende em música? Não é propriamente conteúdo no sentido usual. É sobretudo capacidade de mapear certas capacidades no cérebro.
  2. Como outras áreas de competência intelectual são afetadas pela aprendizagem musical? A resposta é curta:"pelo encorajamento da apreciação de formas separadas de conteúdo".
  3. A música deve ser ensinada como uma habilidade de méritos próprio, ou simplesmente deve ser usada como método para ensinar outros conteúdos? A resposta aqui também é curta: usar música como veículo para outros conteúdos empobrece a aprendizagem e revela desconhecimento do papel mais nobre dessa arte em termos cognitivos.
As questões aqui elencadas, assim como suas respostas não são uma solução definitiva. Elas são muito mais teses que vale a pena investigar no campo da ciência.

A posição de Wood com relação à musica em geral e com relação à experiência de Bolton é a de que há ainda um longo caminho a ser percorrido. Ele, porém, tem uma certeza, a exposição das crianças á música, com oportunidades de experimentar produções de boa qualidade, trazem ganhos significativos em termos de aprendizagens em todas as áreas do currículo. O que precisamos conhecer é como e por que isso acontece.

Sinto que ainda não aprendi a produzir um bom texto nessa aventura de analisar de modo detalhado uma obra. Mas acho que vou aprender fazendo. No próximo post vou apresentar o primeiro capítulo do livro, Fanfare, um pequeno texto que mostra como tudo começou.

Monday, January 19, 2009