Saturday, January 20, 2007

Vacina contra arrogância informacional

Tomei mais uma dose de vacina contra a arrogância informacional. Acabo de ler Inside The Neolithic Mind, obra de David Lewis-Willians e David Pearce. Eventuais leitores devem estar perguntando: o que é arrogância informacional? Explico-me. Volta e meia alguém diz: "nos últimos X anos produziu-se mais conhecimento que em toda a história prévia da humanidade". Alguns anos atrás, o X de tal afirmação era igual a duas décadas. Hoje tal X tem o valor de cinco ou menos anos. Pura bobagem! Essa afirmação descabida confunde capacidade de produzir (e reproduzir) informação com capacidade de gerar saberes originais e significativos. Ela equipara a invenção de um alfabeto a qualquer hipótese irrelevante supostamente comprovada numa tese de doutorado numa universidade medíocre. Inside The Neolithic Mind procura esclarecer os significados de representações religioso-cosmológicas da era neolítica no Oriente Médio e na Europa Mediterrânea. É um mergulho de profundidade nos mares de evidências arqueológicas de sítios como Çatalhoyuk (uma das primeiras cidades do mundo) e Bru na Boinne (um dos conjuntos mais impressionantes de monumentos megalíticos da Europa). A obra é um bom complemento para o indispensável After The Ice, livro de Steven Mithen que procura traçar um panorama da aventura humana de 20.000 a 5.000 AC. Ao ler obras como as citadas, a gente desenvolve profunda admiração pela capacidade inventiva de nossa espécie. Domesticar animais e plantas, desenvolver métodos para converter cereais em itens da gastronomia humana, construir representações que davam sentido a percepções do universo etc. foram façanhas dos grupos humanos que viveram nos quinze mil anos que precedem os inícios daquilo que costumamos chamar de civilização. Entender e admirar os feitos de nossos ancestrais é certamente uma providência para que coloquemos nossa tecnologia e ciência dentro de uma perspectiva histórica rigorosa. Caso contrário praticaremos uma arrogância informacional cuja única justificativa é o analfabetismo em História.

1 comment:

Sônia Ferronatto said...

Ah, esqueci de citar uma "velhinha" muito jovem e atuante no universo tecnológico. Falo de Léa Fagundes aquela que não envelhece.
Beijo
Sônia