A questão do velho trabalhador é abordada em algumas obras da música popular brasileira. Nas canções, o sacrifício de animais inservíveis para a produção geralmente funciona como uma metáfora para o afastamento de trabalhadores que já chegaram numa idade que os patrões consideram avançada. Florênciao Guerra, canção gaúcha, é um exemplo disso:
Florêncio afiou a faca para sangrar seu cavalo
Florêncio guerra das guerras do tempo em que seu cavalo
Pisava estrelas nas serras pra chegar antes dos galos
Florêncio afiou a faca pensando no seu cavalo
Parceiros pelas lonjuras na calma das campereadas
Um barco em tardes serenas um tigre numa porteira
Pechando boi pelas primaveras sem mango sem nazarenas
O patrão disse a Florêncio que desse um fim no matungo
Quem já não serve pra nada não merece andar no mundo
A frase afundou no peito e o velho não disse nada
E foi afiar uma faca como quem pega uma estrada
Acharam Florêncio morto por cima do seu cavalo
Alguém que andava no campo viu o centauro sangrado
Caídos no mesmo barro voltando pra mesma terra
Que deve tanto ao cavalo e tanto a Florêncio guerra
Enfatizei a fala do patrão no verso "Quem já não serve pra nada não merece andar no mundo". Florêncio Guerra é uma canção de Mauro Ferreira e Luiz Carlos Borges, ganhadora da Califórnia da Canção Nativa, versão 1991. Há um site que passa uma boa idéia do que é a Califórnia, apresentando letras das músicas, relação das canções premiadas, vídeos das versões mais recentes do festival etc. Se você quiser visitar a Califórnia basta clicar aqui.
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