Monday, October 22, 2007

Maravilhas multissensoriais da geração internet


Imprensa e alguns acadêmicos apressados chamam nossa atenção para uma suposta capacidade desenvolvida pelos "nativos digitais" (a moçada que desde criancinha usa as novas tecnologias de informação e comunicação). Segundo as mencionadas fontes, nossos jovens são capazes de simultaneamente estudar, ver TV, curtir um som e navegar pela intenet. A lista de apelos multissensoriais atendidos ao mesmo tempo pode variar, mas sempre inclui pelo menos três itens. Da observação de que a nova geração estuda em ambientes com apelos multissensoriais alguns observadores chegam à conclusão de que nossas crias desenvolveram uma capacidade até então ausente: a capacidade de processar, ao mesmo tempo e com competência, diversas e disparatadas fontes de informação. Muita gente acredita nisso (confesso que já levei a sério a mencionada conclusão). Mas há aqui uma confusão: a partir do fato de que adolescentes de nosso tempo estudam (ou tentam estudar) cercados por muitas fontes ativas de informação ou entretenimento, chega-se à conclusão de que os pimpolhos estão processando tudo ao mesmo tempo. Mas os autores de tal afirmação não apresentam qualquer prova de um processamento multissensorial de sucesso. Muito menos fornecem quadros comparativos de resultados de aprendizagem entre estudantes que se concentram e estudantes que pegam no trampo com tudo ligado.
Essa questão mereceu um alerta recente de meu velho amigo Bernie Dodge. Entre outras coisas, Bernie observa de que apesar das muitas mudanças ambientais causadas pelos novos meios de informação e comunicação, não há qualquer evidência de que os cérebros de nossas crias tenham sofrido algum salto evolutivo. Assim, elas não têm qualquer capacidade diferente das capacidades de processamento de informação das gerações anteriores. Veja a matéria toda no blog do Bernie. O post do meu velho amigo faz duas referência que merecem uma olhada. A primeira é um post de Alex Dodge sobre o laptop como distrator, em vez de bom recurso para anotações, durante uma exposição. Alex, aluno de ciência do conhecimento num dos templos de alta tecnologia, a Universidade da Califórnia em SanDiego, não leva mais seu computador portátil para as aulas. E não pensem que Alex é algum luddita ou seguidor das idéias de Valdemar Setzer. Ele usa computadores desde os quatro anos de idade. As observações de Alex estão aqui. A segunda é um artigo on line de Jamie MacKenzie. Espero que este post agite um pouco o assunto. Se você chegou até aqui não deixe de comentar o tal fenômeno. Ainda há muita coisa que dizer sobre o dito cujo.

4 comments:

Brazil and Germany said...

Gostaria de entrar em contato para trocarmos ideia sobre webquest. envie e-mail para voce e nao obtive resposta.
Sou mestranda da universidade catolica de brasilia. samarasilva@hotmail.com

Fátima Campilho said...

Olá,Jarbas!
Neste momento, estou digitando o que estou pensando com a TV ligada!
Não atrapalha minha concentração,bem como uma música instrumental quando estou lendo. Proponho uma experiência: uma prova de vestibular ao som de um rock ou funk. Há umas duas semanas, consegui que um aluno ficasse "sossegado", permitindo que ficasse ouvindo música em sala de aula, mas duvido que soubesse algo do assunto da aula! Tenho um filho adolescente que fica jogando no PC, ouvindo música e com a TV ligada. Pura distração!As notas estão péssimas!
Entendo que para haver aprendizagem é necessária a concentração com ou sem silêncio. Eu tenho a capacidade de me desligar de tudo quando estou lendo,mas me distraio quando estou escrevendo, por exemplo.
Estou falando das minhas experiências e observações pessoais. Já falei certa vez que endendo pouco de Pedagogia. Não li ainda os textos recomendados, não tenho opinião formada.
Abraços.

Anonymous said...

Oi Jarbas, ainda não acredito na possibilidade de realizarmos 2 ou 3 atividades simultaneamente de forma satisfatória, não para nós simples mortais.E nossos jovens e crianças acredito que ainda não nos superaram nisso.
Também quero ver pesquisas científicas comprovando isso.A criatura humana está necessitando muito é de voltar-se para dentro de si mesmo em busca de autoconhecimento e quem sabe num futuro ainda distante venhamos a ver isso acontecendo com sucesso.
Minha filha fica todo o tempo fora da escola com mp5 ao ouvido e está deixando a desejar.Rs,rs,rs...
Olha te respondi no meu blog, passe lá. Eurípedes Barsanulfo foi especial.
Um abraço Jarbas.

Jarbas said...

Fátima e Maísa,
Observamos em nossos filhos um ambiente cheio de apelos sensoriais. Nós os vemos estudar (?)com todos os aparelhos eletrônicos ligados, num exagero de som e imagem. E no geral, nossas crias não mostram evidência de que são capazes de processar toda essa fartura informativa com bom proveito. Por outro lado, como observa a Fátima, há diferentes estilos de concentração para estudar. Me dou muito bem estudando em cafés e cantinas, não importando todos os apelos sonoros e visuais que rolam em tais ambientes. Na verdade aprendi a estudar em botecos porque era fumante (TG! já larguei o vício). Já nos começos dos anos oitenta, o cigarro era mais que proibido in doors na San iego State University, onde fiz o mestrado. Assim eu não podia utilizar as ótimas salas de estudo e a fantástica biblioteca do campus. Pegava os livros na biblioteca e ia para uma das cantinas, um espaço que, no geral, era território dos vagais. Passava horas bebericando aquele café aguado dos gringos, fumando um cigarro atrás do outro e estudando pra valer. Rendia muito, a não ser quando um conhecido parava para um papo sem fim.
Mas o ponto do post não é capacidade de concentração versus ambiente. O ponto do post é a conclusão apressada de certos tecnobobos que acham que fartura de estímulo gera necessariamente fartura de apreensão de informações. Pura bobagem. Nossos ancestrais caçadores já sabiam disso e eram capazes de desfocar estímulos desnecessarios para fazer o que importava: conseguir a fonte de proteína que daria a eles e a sua comunidade mais alimento.
O ponto é importante, sobretudo como exemplo de uma tecnosofia ingênua que se esquece que mais admirável que máquinas e equipamentos é o bicho que os cria.Abraço grande, meninas. Jarbas