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Wednesday, May 10, 2006
Escola Chata
Semana passada a Folha de São Paulo publicou um registro da sabatina que o jornalão promoveu com o dublê de educador e psicanalista Rubem Alves. Não gostei da chamada da matéria. A Folha destacou da fala do Rubão a afirmação de que "a escola é chata". No meu modo de ver, constatações como essa reafirmam a prática de chutar cahorro morto. Ato desnecessário. Sinal de uma valentia fácil, pois o cadáver não irá reagir. Mas meu desagrado não para por aí. Preocupa-me sobretudo o outro lado da moeda. Educadores que aceitam sem crítica comentário como o de Rubem Alves costumam achar que a saída é uma escola divertida. Ou seja, na sociedade do espetáculo é hegemônica a idéia de que o bom aprender precisa ser uma atividade circense. Não tenho nada contra o circo, o espetáculo, a diversão. Acho, porém, que é preciso não perder de vista algumas características do aprender. Sirvo-me de um exemplo: cálculo. Vejo meu filho, um físico, trabalhando com cálculo em muitas ocasiões. Um trabalho que exige muita concentração. Um trabalho que apresenta grandes desafios. Conseguir resolver certos problemas certamente é muito prazeroso. Mas a atividade toda não é divertida. Coisa parecida pode ser verificada na aprendizagem musical de alguém que está estudando um peça a ser executada publicamente. Chegar a uma interpretação original e bem executada deve ser uma fonte de grande prazer. Não vejo porém no demorado e exigente processo de ensaiar exaustivamente a peça algo divertido. Resumo da ópera; prazer não é necessariamente diversão. E mais: muitas fontes de prazer exigem altos investimentos de concentração, ensaio, exercício, trabalho.
A aceitação passiva de uma crítica que parece indicar que a boa escola é a divertida sugere que nosso mundo é a concretização perfeita do pesadelo de uma sociedade cujo desejo único é uma diversão contínua, tema central do Brave New World de Huxley.
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4 comments:
Oi Jarbas,
concordo em número, gênero e grau.
Esta "vilanização" da escola que coloca como contraponto o mundo do prazer permanente não leva a nada. Acho que aprender dá trabalho, e é preciso educar para esta consciência. Alunos em situação de desafio intelectual não precisam de show, e não creio que seja este o melhor caminho para um professor que pretenda ser bem sucedido.
abraços,
Lilian
Mas de qualquer forma o cara estava certo, a escola é mesmo chata.
E o contrário de chato, além de divertido, pode ser também interessante, uma escola que faça os alunos se interessarem pela matéria é com certeza uma escola boa.
Lilian e Jarbas, concordo também com todas palavras de vcs.Depois de passar um bom tempo de minha vida dentro de escola em zona rural me vi aos tombos ao entrar em uma escola em que tínhamos que ser malabaristas para agradar o aluno. Acho que não é este o papel do professor. Até pode ser de professor de cursinho mas não de ensino regular. Porque de repente todos devemos rezar pela mesma cartilha. Se a escola é chata? Sempre foi, assim como ir ao médico e ao desntista mas nem por isso eles se fantasiam para agradar os pacientes.Quer saber viva a escola chata que nos ensinou sobre cidadania, sobre valores que não existem mais porque os professores tem que bancar fantoches.
Animadores de festa e de auditório é uma profissão que é muito divertida (menos o Faustão que é um chato, apesar de redondo) e mesmo assim não agradam a todos. Porque os professores devem tomar o lugar deles?
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