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Tuesday, October 07, 2008
Leitura atlética
Acabo de escrever um texto que faz referência aos muitos problemas da aprendizagem da leitura em nossos dias. E no processo de escrever, lembrei-me de um antigo companheiro de república nos idos de 68/69.
Usávamos um pequeno escritório do casarão para estudo. Minha mesa ficava ao lado da mesa do citado companheiro. Quase todos os dias eu observava uma cena engraçada e dolorosa: a atividade de estudo do moço.
Antes de falar da graça e da dor que testemunhei, preciso apresentar o personagem. Ele era um atleta. Zagueiro central titular do time da escola. Não era um craque, mas seu vigor físico e vontade impunham respeito aos mais brilhantes dianteiros. Era um menino nascido na roça, filho de sitiantes italianos. Fizera um primário abreviado (três anos) com professores leigos. Quando começou o ginásio na cidade ainda não estava completamente alfabetizado. Aos trancos e barrancos chegou ao ensino superior.
Volto à graça e à dor. Qualquer texto de estudo, superficial ou profundo, fácil ou difícil, era um desafio quase que insuperável para meu companheiro. Mas ele era um moço voluntarioso e valente. Não desistia. Tratava os livros como se fossem atacantes a serem anulados dentro da área. Pegava-os com força, segurando-os com ambas as mãos. E fazia da leitura uma atividade física, um briga contra as letras. Textos mais difíceis eram lidos repetidamente em voz alta. Textos mais fáceis eram lidos sem som aparente, mas com lábios que não paravam de se movimentar. E parecia que aquelas mãos fortes iriam estraçalhar os pobres livros.
Essa história, a meu ver, ilustra a necessidade de uma boa alfabetização no primário. Perdão! Nos primeiros anos do ensino fundamental.
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2 comments:
Olá, professor!!
História triste. Gostaria de saber se o zagueiro tinha metas intelectuais ou somente metas econômicas.
De qualquer forma, o caso é triste.
Consigo associar este relato com fatos que presencio no meu dia-a-dia acadêmico. A dificuldade em interpretar deve ser análoga, porém a leitura concentrada e atipicamente falada de alguns colegas esconde outro objetivo: a simples memorização de definições ou fatos. (O absurdo maior sejam as avaliações de certos professores, os quais estimulam, talvez sem querer, tal comportamento.)
Enfim, viva o pensamento!
Alô, Victor,
Obrigado por mais esta visita. Como você diz, é provável que os problemas de leitura exemplificados pela história de meu amigo atleta sejam maiores hoje que em meus tempos de estudante. E como você também diz, professores precisam estar atentos para o fenômeno.
Não sei lhe dizer se o zagueiro da história tinha ou não apenas metas econômicas. Posso,porém,adiantar que nosso herói passou boa parte da vida trabalhando em bancos ... Abraço,
Jarbas.
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