De acordo com minha promessa, reproduzo aqui a tradução de excertos do livro
Acts of Meaning de Jerome Bruner. É difícil hoje avaliar os desafios que os defensores do cognitivismo tiveram que enfrentar, pois lutaram contra um poder muito bem estabelecido, uma psicologia que proclamava suas virtudes científicas e que dominou o cenário acadêmico por mais de meio século. Bruner, Miller e outros enfrentaram uma oposição poderosa, foram ridicularizados por alguns e combatidos pela maioria. Cesso os meus comentários por aqui. É melhor ouvir a voz de Bruner, descrevendo os novos rumos e apontando os perigos de uma hegemonia que pode levar-nos a perder de vista os objetivos iniciais da revolução cognitivista. Com a palavra, Jerome Bruner:
Quero começar com a Revolução Cognitivista como meu ponto de partida. A revolução pretendeu trazer a "mente" de volta para as ciências humanas depois de um longo inverno de objetivismo. Mas o meu balanço não será aquele de um progresso marchando sempre para a frente. Pois, pelo menos para mim, essa revolução agora se desviou para assuntos que são marginais ao impulso que a trouxe à tona. Na verdade, ela foi tecnocalizada de tal maneira que até mesmo abafa o impulso original. Isso não quer dizer que ela falhou: longe disso, pois a ciência do conhecimento é uma das áreas que mais consegue recursos para pesquisa e bolsas de estudo. É mais certo dizer que ela se desviou de seus propósitos por causa de seu sucesso, um sucesso cujas virtuosidades tecnológicas têm custos muito altos. Alguns críticos, talvez injustamente, até mesmo argumentam que a nova ciência do conhecimento, filha da revolução, ganhou espaço à custa de desumanizar o próprio conceito de mente que ela ajudou a reestabelecer na psicologia, e que por isso afastou a psicologia das outras ciências humanas.
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Agora deixe-me dizer primeiramente como eu e meus amigos entendemos a revolução lá atrás nos anos cinquenta. Ela era, pensávamos, um esforço total para estabeler o significado como o conceito central da psicologia - não estímulos e respostas, não comportamento observável, não impulsos biológicos e sua transformação, mas significado. Ela não era uma revolução contra o behaviorismo com o objetivo de transformar o behaviorismo em um caminho melhor de estudar psicologia acrescentando-lhe um pouquinho de mentalismo. Edward Tolman já tinha feito isso, sem nehum proveito.Ela era em seu conjunto uma revolução mais profunda que isso. Seu alvo era descobrir e descrever formalmente os significados que os seres humanos criam em seus encontros com o mundo, e então propor hipóteses a respeito do que implicariam os processos de produzir significados. Ela tinha como foco as atividades simbólicas que os seres humanos na construção e feitura de sentido não só do mundo, mas de si mesmos. Seu alvo era o de levar a psicologia a reunir esforços com suas irmãs no campo das ciências interpretativas, ciências humans e ciências sociais. Na verdade, sob a superfície de uma ciência mais oprientada para atividades computacionais, é isso precisamente o que está acontecendo - no início vagarosamente e agora com uma aceleração crescente. Por isso hoje encontram-se centros florescentes de psicologia cultural, antropologia cognitiva e interpretativa, linguística cognitiva, e, acima de tudo, um empreendimento mundial crescente que se ocupa como nunca, desde os tempos de Kant, com a filosofia da mente e da linguagem.
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A revolução cognitiva, tal como concebida na origem, requereu virtualmente que a psicologia juntasse forças com antropologia e linguística, filosofia e história, até mesmo com as diciplinas jurídicas. Não é surpresa nem acidente que naqueles primeiros anos o conselho cosultivo do Center for Cognitive Studies (Centro de Estudios Cognitivos) de Harvard incluisse o filósofo W. V. Quine, um historiados da cultura, H. Stuart Hughes, e um linguista, Roman Jakobson. Ou que os investigadores do Centro houvesse quase tantos filósofos , antropologistas e linguistas como psicólogos propriamente ditos - entre eles, expoentes do novo construtivismo como Nelson Goodman.
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A revolução cognitiva como foi originalmente concebida juntou forças com a antropologia e a linguística, a filosofia e a história, até mesmo com as disciplinas jurídicas. . Não era surpresa encontrar naqueles primeiros anos um filósofo com W. V. Quine, Um historiador da cultura como H. Stuart Hughes, e um linguista como Roman Jakobson no conselho consultivo do Centro de Estudos Cognitivos em Harvard.
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Eu acho que é preciso deixar claro de nós não queríamos reformar o behaviorismo, mas substituí-lo. Ou, como meu colega George Miller colocou alguns anos depois: "Fixamos nosso novo credo na porta [alusão à fixação das teses de Lutero na porta da catedral, ato que iniciaou a reforma protestante, N. T.] e esperamos para ver o que iria acontecer. E tudo foi muito bem; tão bem, na verdade, que no fim nos tornamos vítimas de nosso sucesso.