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Sunday, August 01, 2010
Encontre as palavras...
Registro aqui indicação de site que permite elaboração de quebra-cabeças de palavras:
Wednesday, July 14, 2010
Aprendizagem e trabalho
Acabo de responder consulta de uma estudante de mestrado que queria que eu sugerisse leituras sobre formação profissional na área de hotelaria, e sobre aprender a trabalhar. Como mais gente pode se interessar pelo assunto, reproduzo aqui a reposta encaminhada.
Cara XXXXX,
Você está ingressando numa área de investigação muito interessante. Cursos de hotelaria surgiram no Brasil a partir de referências de um aprender que se dava no interior do próprio trabalho em cozinhas, cambuzas, salas de restaurante, áreas de recepção e apartamentos de hotéis. Não sei precisar em que ano essas atividades começaram, mas no caso do Senac de São Paulo, creio que os primeiros cursos de formação de profissionais para hotelaria devem ter acontecido no início do ano de 1950. E foi na década de 50 que o Regional paulista abriu seu primeiro restaurante-escola, o "Lauro Cardoso de Almeida", que funcionou inicialmente na Rua 24 de Maio.
Evento marcante na formação profissional no campo da hotelaria foi a inauguração do hotel escola de Águas de São Pedro (salvo engano, no ano de 1968 - se interessar, é bom você conferir a data com o Senac de São paulo).
No hotel escola, os alunos de cozinha, sala e recepção atuavam em tempo integral em postos de trabalho que atendiam a clientes comuns do hotel. Todas as atividades aconteciam de acordo com ritmo e necessidade de funcionamento do hotel. O plano pedagógico não interferia naquilo que os alunos faziam em seus postos de trabalho. A atuação deles dependia de ocorrências de serviço e de julgamento da supervisão. Ou seja, cada aluno realizava técnicas de trabalho de acordo com a dinâmica de funcionamento do hotel e de acordo com o que lhes era determinado pelo chefe de cozinha, pelo maitre ou pelo chefe de recepção.
O que descrevi no parágrafo anterior corresponde àquilo que chamamos de aprendizagem corporativa. Ou seja, aprendizagem que se dava no interior das corporações de ofício. Esse tipo de aprendizagem nada tinha a ver com a didática criada para o aprender em escolas. Em vez de desenvolver o conhecimento em salas de aula, as corporações de ofício ensinavam profissões nas oficinas, e o aprendiz participava desde o primeiro instante do processo produtivo.
Penso que seria muito interessante uma pesquisa para investigar como aconteceu a formação em hotelaria nas décadas iniciais dos cursos oferecidos pelo Senac. Minha hiopótese é a de que referências da aprendizagem desenvolvida pelas corporações de ofício predominou. Os motivos para isso, entre outros, foram: não havia qualquer referência prévia, por isso a organização valeu-se da experiência de profissionais respeitados em seus respectivos ofícios (os professores de hotelaria eram profissionais com muita experiência no ramo); os educadores profissionais não sabiam como organizar a nova formação, as referências da didática escolar não lhes davam qualquer pista sobre o assunto; os educadores da casa entenderam intuitivamente que o melhor caminho de formação seria aquele tradicionalmente utilizado no interior das corporações de ofício. Repare que estou dizendo que a solução foi intuitiva. Não há registro de que o Senac tenha adotado explicitamente métodos utilizados pelas corporações. Em vez disso, apostou na experiência dos profissionais que traziam para a organização certa memória de como aprenderam a trabalhar.
O aprender no posto de trabalho era acompanhado por atividades em sala de aula. Eventualmente, havia no centro de formação laboratórios (cozinha pedagógica, apartamento modelo, laboratório de sala), mas o treinamento em tais ambientes, pelo menos no hotel escola, era apenas uma iniciação. A aprendizagem "pra valer' acontecia em ambientes de trabalho com atendimento a hóspedes comuns.
Na hotel escola há muitas circunstâncias que devem ser consideradas. Algumas vezes os maitres, chefes de recepção e chefes de cozinha eram também professores que ensinavam em sala de aula. Mas muitos supervisores, chefes e maitres não davam aulas convencionais. Apenas supervisionavam o trabalho dos alunos no postos de trabalho. Outra coisa: num mesmo ambiente ou setor havia alunos de diversos níveis - iniciantes, intermediários, concluintes. Havia também funcionários "comuns" (funcionários dos quais não se esperava nenhum papel de supervisão de ensino no local de trabalho, pois eram contratados apenas para agilizar o serviço). Assim, num dado ambiente de trabalho - o bar, por exemplo - era possível encontrar alunos de diversos níveis, chefias com função de instrutoria e funcionários comuns. Todos eles trabalhando de modo interativo para que o serviço oferecido - a clientes reais - fosse da melhor qualidade possível. Esse ambiente configura o que pesquisas recentes costumam chamar de "comunidades de prática" (tome cuidado com o uso dessa expressão; ela não designa simples execução; ela designa práticas sociais em grupos que tem um objetivo comum; no caso do trabalho, ela designa a associação de pessoas que buscam produzir uma obra bem feita).
O que se aprende em comunidades de prática não pode ser transferido para situações formais e abstratgas de ensino. Ou seja, a aprendizagem em comunidades de prática não pode ser escolarizada. Certo conteúdo técnico pode ser isolado e até ensindo como 'competência' específica. Mas ao separar técnica de seu contexto de significação, um trabalho concreto cujo fim é uma obra com a qual se identificam os profissionais, esvazia-se o conteúdo do trabalho. Este perde, entre outras, suas dimensões axiológicas (a referência dos valores), suas dimensões éticas (a referência da obra nas relações eu/outro), e até as dimensões psicológicas (a referência de um fazer que forja a identidade do profissional - "somos aquilo que fazemos").
Até aqui apontei algumas pistas que considero importantes em estudos sobre formação profissional em qualquer área. Boa parte desses meus apontamentos é resultado do estudo de duas obras indispensáveis:
Há outro livro que merece atenção no caso:
Antes de mergulhar nas obras aqui citadas, é bom ler Mike Rose, que, num livro excepcionalmente bem escrito, mostra como a pessoas aprendem a trabalhar com as outras em contextos significativos. A obra de Rose foi traduzida para o português e pode ser encontrada em:
Insisto numa leitura de Rose. Para você que é da área de hotelaria, há um capítulo imperdível, A Vida de Trabalho de uma Garçonete. A mãe de Mike sustentou a família durante mais de trinta anos com seu trabalho em restaurantes. O filho, que sabia que serviços de sala exigem muitos saberes, ao escrever sua obra sobre o conhecimento dos trabalhadores optou por começar seu livro com uma análise inspiradora sobre o ofício das mulheres que dão vida aos serviços de sala nos "family restaurants"dos Estados Unidos. Rose analisa outras profissões e o saber intrínseco que elas tem. Além de analisar conhecimento, ele faz observações notáveis sobre valores, ética, dimensões políticas. Como disse, ler Rose é uma necessidade se quisermos entender como se dá a trama da aprendizagem na formação dos trabalhadores.
Há dois livros interessantes para estudos sobre aprendizagem artesanal:
Para estudos sobre aprendizagem artesanal convém ler também um livro saído recentemente:
Em meus contatos recentes com pesquisadores na área, tenho conversado com Lev Mjelde, da Noruega. Lev escreu recentemente um livro que estuda diferenças entre o aprender na escola e o aprender em centros de formação profissional. As primeiras sempre foram influenciadas por aquilo que a autora chama de educação literária. Os segundos tem planos de estudo inspirados pelo aprender em oficinas. Segue referência do livro da minha amiga norueguesa:
Realizei estudo sobre particularidades do ensino de técnicas no Senac, sobretudo nas áreas de beleza, saúde e informática. Esse meu estudo foi publicado em livro:
Há mais informações que eu poderia elencar, mas falta-me tempo para lhe enviar uma resposta mais extensa e completa. Espero, porém ter sido de alguma ajuda. Gostaria de ser informado sobre desdobramentos do estudo que você pretende fazer. Grande abraço,
Jarbas.
TE: Não trabalho mais no Senac. Aponsentei-me na organização em 2003, mas ainda continuo ligado em estudos sobre educação e trabalho.
Cara XXXXX,
Evento marcante na formação profissional no campo da hotelaria foi a inauguração do hotel escola de Águas de São Pedro (salvo engano, no ano de 1968 - se interessar, é bom você conferir a data com o Senac de São paulo).
No hotel escola, os alunos de cozinha, sala e recepção atuavam em tempo integral em postos de trabalho que atendiam a clientes comuns do hotel. Todas as atividades aconteciam de acordo com ritmo e necessidade de funcionamento do hotel. O plano pedagógico não interferia naquilo que os alunos faziam em seus postos de trabalho. A atuação deles dependia de ocorrências de serviço e de julgamento da supervisão. Ou seja, cada aluno realizava técnicas de trabalho de acordo com a dinâmica de funcionamento do hotel e de acordo com o que lhes era determinado pelo chefe de cozinha, pelo maitre ou pelo chefe de recepção.
O que descrevi no parágrafo anterior corresponde àquilo que chamamos de aprendizagem corporativa. Ou seja, aprendizagem que se dava no interior das corporações de ofício. Esse tipo de aprendizagem nada tinha a ver com a didática criada para o aprender em escolas. Em vez de desenvolver o conhecimento em salas de aula, as corporações de ofício ensinavam profissões nas oficinas, e o aprendiz participava desde o primeiro instante do processo produtivo.
Penso que seria muito interessante uma pesquisa para investigar como aconteceu a formação em hotelaria nas décadas iniciais dos cursos oferecidos pelo Senac. Minha hiopótese é a de que referências da aprendizagem desenvolvida pelas corporações de ofício predominou. Os motivos para isso, entre outros, foram: não havia qualquer referência prévia, por isso a organização valeu-se da experiência de profissionais respeitados em seus respectivos ofícios (os professores de hotelaria eram profissionais com muita experiência no ramo); os educadores profissionais não sabiam como organizar a nova formação, as referências da didática escolar não lhes davam qualquer pista sobre o assunto; os educadores da casa entenderam intuitivamente que o melhor caminho de formação seria aquele tradicionalmente utilizado no interior das corporações de ofício. Repare que estou dizendo que a solução foi intuitiva. Não há registro de que o Senac tenha adotado explicitamente métodos utilizados pelas corporações. Em vez disso, apostou na experiência dos profissionais que traziam para a organização certa memória de como aprenderam a trabalhar.
O aprender no posto de trabalho era acompanhado por atividades em sala de aula. Eventualmente, havia no centro de formação laboratórios (cozinha pedagógica, apartamento modelo, laboratório de sala), mas o treinamento em tais ambientes, pelo menos no hotel escola, era apenas uma iniciação. A aprendizagem "pra valer' acontecia em ambientes de trabalho com atendimento a hóspedes comuns.
Na hotel escola há muitas circunstâncias que devem ser consideradas. Algumas vezes os maitres, chefes de recepção e chefes de cozinha eram também professores que ensinavam em sala de aula. Mas muitos supervisores, chefes e maitres não davam aulas convencionais. Apenas supervisionavam o trabalho dos alunos no postos de trabalho. Outra coisa: num mesmo ambiente ou setor havia alunos de diversos níveis - iniciantes, intermediários, concluintes. Havia também funcionários "comuns" (funcionários dos quais não se esperava nenhum papel de supervisão de ensino no local de trabalho, pois eram contratados apenas para agilizar o serviço). Assim, num dado ambiente de trabalho - o bar, por exemplo - era possível encontrar alunos de diversos níveis, chefias com função de instrutoria e funcionários comuns. Todos eles trabalhando de modo interativo para que o serviço oferecido - a clientes reais - fosse da melhor qualidade possível. Esse ambiente configura o que pesquisas recentes costumam chamar de "comunidades de prática" (tome cuidado com o uso dessa expressão; ela não designa simples execução; ela designa práticas sociais em grupos que tem um objetivo comum; no caso do trabalho, ela designa a associação de pessoas que buscam produzir uma obra bem feita).
O que se aprende em comunidades de prática não pode ser transferido para situações formais e abstratgas de ensino. Ou seja, a aprendizagem em comunidades de prática não pode ser escolarizada. Certo conteúdo técnico pode ser isolado e até ensindo como 'competência' específica. Mas ao separar técnica de seu contexto de significação, um trabalho concreto cujo fim é uma obra com a qual se identificam os profissionais, esvazia-se o conteúdo do trabalho. Este perde, entre outras, suas dimensões axiológicas (a referência dos valores), suas dimensões éticas (a referência da obra nas relações eu/outro), e até as dimensões psicológicas (a referência de um fazer que forja a identidade do profissional - "somos aquilo que fazemos").
Até aqui apontei algumas pistas que considero importantes em estudos sobre formação profissional em qualquer área. Boa parte desses meus apontamentos é resultado do estudo de duas obras indispensáveis:
- LAVE, J. & WENGER, E. (1991). Situated Learning: Legitimate peripheral participation. Cambridge: Cambridge University Press.
- WENGER, E. (1998). Communities of practice: Learning , meaning, and identity. Cambrige: Cambrige University Press.
Há outro livro que merece atenção no caso:
- CHAIKLIN, S. & LAVE, J. (1996). Understanding Practice: Perpective on activity and context. Cambridge: Cambridge University Press.
Antes de mergulhar nas obras aqui citadas, é bom ler Mike Rose, que, num livro excepcionalmente bem escrito, mostra como a pessoas aprendem a trabalhar com as outras em contextos significativos. A obra de Rose foi traduzida para o português e pode ser encontrada em:
- ROSE, M. (2007). O Saber no Trabalho: Valorização da inteligência do trabalhador. São Paulo: Editora Senac.sp.
Insisto numa leitura de Rose. Para você que é da área de hotelaria, há um capítulo imperdível, A Vida de Trabalho de uma Garçonete. A mãe de Mike sustentou a família durante mais de trinta anos com seu trabalho em restaurantes. O filho, que sabia que serviços de sala exigem muitos saberes, ao escrever sua obra sobre o conhecimento dos trabalhadores optou por começar seu livro com uma análise inspiradora sobre o ofício das mulheres que dão vida aos serviços de sala nos "family restaurants"dos Estados Unidos. Rose analisa outras profissões e o saber intrínseco que elas tem. Além de analisar conhecimento, ele faz observações notáveis sobre valores, ética, dimensões políticas. Como disse, ler Rose é uma necessidade se quisermos entender como se dá a trama da aprendizagem na formação dos trabalhadores.
Há dois livros interessantes para estudos sobre aprendizagem artesanal:
- RUGIU, A. (1998) Nostalgia do Mestre Artesão. São Paulo: Editora Autores Associados.
- RUGIU, A. (1995) Il Braccio e la Mente: Un millenio di educazione divariccata. Firenze: La Nuova Italia Editrici.
Para estudos sobre aprendizagem artesanal convém ler também um livro saído recentemente:
- SENNETT, R. (2008). The Craftsman. New Haven & London: Yale University Press (a obra foi traduzida para o português, mas não tenho em mão a versão brasileira para referenciar).
Em meus contatos recentes com pesquisadores na área, tenho conversado com Lev Mjelde, da Noruega. Lev escreu recentemente um livro que estuda diferenças entre o aprender na escola e o aprender em centros de formação profissional. As primeiras sempre foram influenciadas por aquilo que a autora chama de educação literária. Os segundos tem planos de estudo inspirados pelo aprender em oficinas. Segue referência do livro da minha amiga norueguesa:
- MJELDE, L. (2006). The magical properties of workshop learning. Bern: Peter Lang. AG, International Academic Publishers.
Realizei estudo sobre particularidades do ensino de técnicas no Senac, sobretudo nas áreas de beleza, saúde e informática. Esse meu estudo foi publicado em livro:
- BARATO, J. N. (2003). Saberes do ócio ou saberes do trabalho?. São Paulo: Editora Senac.sp.
Há mais informações que eu poderia elencar, mas falta-me tempo para lhe enviar uma resposta mais extensa e completa. Espero, porém ter sido de alguma ajuda. Gostaria de ser informado sobre desdobramentos do estudo que você pretende fazer. Grande abraço,
Jarbas.
TE: Não trabalho mais no Senac. Aponsentei-me na organização em 2003, mas ainda continuo ligado em estudos sobre educação e trabalho.
Wednesday, July 07, 2010
Apoio do Jagger...
Tuesday, June 22, 2010
Saturday, June 19, 2010
The Rose
O velho laboratório de inglês não ajudava muito. Investimento caro para pouca aprendizagem. Quem dizia isso era uma respeitável professora do idioma gringo no ALI (American Language Institute) da San Diego Satate University. Ela nos dizia que toda aquela parafernália servia apenas para melhorar um pouquinho nossa pronúncia.
Nossa mestra procurava aliviar a chatice do laboratório com música. Todas as aulas terminavam com audições de grandes cançoes gringas e britânicas. Uma dessas canções era The Rose, música tema do filme do mesmo nome, uma biografia dramatizada da fantástica Janis Joplin.
Ás vezes ouço The Rose numa gravação de Joan Baez. Hoje tentei encontrar a versão original. Fui ao Goear. Alguém colocou no pedaço a música, atribuindo sua interpretação a Janis Joplin. Um erro. Na verdade, a música é uma tentativa de sintetizar a vida da grande intérprete. Quem a canta é Bette Midler.
Ouçam a beleza de The Rose em gravação disponível no Goear:
Nossa mestra procurava aliviar a chatice do laboratório com música. Todas as aulas terminavam com audições de grandes cançoes gringas e britânicas. Uma dessas canções era The Rose, música tema do filme do mesmo nome, uma biografia dramatizada da fantástica Janis Joplin.
Ás vezes ouço The Rose numa gravação de Joan Baez. Hoje tentei encontrar a versão original. Fui ao Goear. Alguém colocou no pedaço a música, atribuindo sua interpretação a Janis Joplin. Um erro. Na verdade, a música é uma tentativa de sintetizar a vida da grande intérprete. Quem a canta é Bette Midler.
Ouçam a beleza de The Rose em gravação disponível no Goear:
Thursday, June 03, 2010
Sunday, May 30, 2010
Thursday, March 11, 2010
Sunday, March 07, 2010
Dia internacional da mulher
Faço minha homenagem às mulheres. Por sua beleza. Pela beleza de sua luta. O dia internacional da mulher não é uma data que apenas mereça constar em agendas de comemoração. É um dia que relembra velhas lutas e conquistas.É um dia para lembrar que a luta continua. Vejam tudo isso neste belíssimo vídeo.
Tuesday, February 02, 2010
Pensamento em ação
Faz alguns anos que comecei a produzir um texto para dialogar com educadores sobre a profissão de cabeleireira. A formação dessa profissional acontece muitas vezes em cursos ou escolas especializadas. E há muito preconceito com relação ao saber dos profissionais de salões de beleza. No geral, educadores que nunca refletiram sobre a aprendizagem do trabalho pensam que profissões como a de cabeleireira exigem apenas domínio de certas técnicas. Os mesmos educadores não estão conscientes de que profissionais de salões de beleza dominam sofisticados processos de avaliação estética, de planejamento da ação , de negociação de significados, de modos de conversação, de correção de erros durante um processo etc. Tudo isso não precisa converter-se em disciplinas ou em competências isoladas. A técnica na sua integralidade reúne, além de aspectos observáveis de execução, muitas decisões e julgamentos que a cabeleireira vai fazendo enquanto corta os cabelos de sua cliente.
Meu texto ficou perdido entre as coisas que pensei em fazer e acabei não concluindo. Ontem achei o que havia escrito. O ponto de partida para meu texto é um capítulo do livro A Inteligência no Trabalho , de Mike Rose. Mas não fiquei apenas em comentários à obra de Rose. Acabei acrescentando observações do que aprendi em longos anos de convivência com educadores que formam profissionais de salões de beleza.
Inicialmente o que escrevi estava endereçado a educadores do campo de educação profissional e tecnológica. Ao reler o texto, achei que o mesmo pode ser uma boa provocação para reflexões de qualquer educador. Por isso resolvi divulgar meu velho escrito aqui no Aprendente. Espero que o mesmo provoque alguma reflexão e desejo de conhecer a obra de Mike Rose.
ARRUMANDO CABELOSJarbas Novelino BaratoA cabeleireira "pensa por meio da tesoura que tem nas mãos". Começo meu comentário sobre "Arrumando Cabelos", segundo capítulo de o Saber do Trabalho, livro de Mike Rose, com as palavras finais do referido texto. Tais palavras, a meu ver, sintetizam a preocupação de Rose em mostrar o trabalho como inteligência em ação, não separando saber e fazer, habilidade e conhecimento, prática e teoria.
Minha intenção aqui é a de apresentar o mencionado capítulo do livro de Rose como material merecedor da atenção de educadores que ou coordenam cursos de cabeleireiras ou são docentes em cursos que preparam estas profissionais dos salões de beleza. Tenho certeza de que os leitores vão encontrar em Rose uma apresentação sistemática de muitas coisas que já sabem. E, ao mesmo tempo, acho que as análises do autor vão abrir janelas para novos modos de ver os trabalhadores da área de beleza.
A idéia que ilumina a obra de Rose é a de que o trabalho manual, em todas as suas dimensões, é uma forma de desdobramento da inteligência humana. No caso específico das cabeleireiras, o autor procura mostrar que cuidar dos cabelos, nas ações concretas que dão vida ao exercício da profissão, exige saberes complexos nem sempre evidentes para observadores incapazes de ver o trabalho a partir dos olhos do trabalhador.
No capítulo em tela, Rose inicia suas análises tentando entender como os profissionais articulam diversos saberes na ação. Para isso, ele acompanha e dialoga com duas cabeleireiras cortando cabelo. Ele repara que a técnica de corte se articula com diagnósticos, percepção de expectativas do cliente, adequação da técnica a situações particulares de uma certa cliente, avaliação parcial dos resultados do processo em andamento. Tudo isso acontece numa dinâmica na qual perícia (competência técnica) articula-se com capacidades comunicativas capazes de sinalizar quais são os desejos da cliente.
Como vê a cena no palco americano, Rose procura mostrar alguns aspectos sócio-econômicos da profissão no país do Norte. São mais de 850 mil profissionais registrados. A grande maioria, 722 mil, é constituída por mulheres. A profissão, portanto, é predominantemente feminina. Isso pode ser resultado e fonte de preconceitos. A situação brasileira, apesar de particularidades de nossa história, deve guardar certa semelhança com a americana. É bom, portanto, não perder de vista as condições sócio-econômicas que levam muitas pessoas, particularmente as mulheres, a escolherem a profissão de cabeleireira.
Quem já se aproximou do cotidiano do trabalho de cabeleireiras sabe que as referências estéticas são fundamentais para o exercício da profissão. Rose aborda essa dimensão do trabalho de várias formas. A estética, além de refletir sensibilidade da profissional, é um item que exige negociação de significados entre desejos da cliente e perícia da cabeleireira. Geralmente o resultado final de um trabalho bem feito é consequência de uma trama - uma conversação - que vai definindo no processo o querer da cliente e as possibilidades de execução profissional. Mike Rose observa que há cabeleireiras que buscam resultados de acordo com seus gostos pessoais, sem levar em conta as expectativas das mulheres que as procuram, mas isso é um exceção.
No parágrafo anterior, mencionei a conversação como um componente importante para a definição do processo e resultado no trato com cabelos. Ao considerar esse aspecto, o autor vai mostrando toda uma riqueza de comunicação que faz parte do fazer-saber das profissionais estudadas. E tal comunicação vai além da negociação sobre resultado do serviço. Ela abrange também aspectos da vida pessoal das clientes, não apenas no nível da conversa sem compromisso, mas também no nível de interesses e problemas do cotidiano de ambas as conversantes.
Boas profissionais não dominam todas as técnicas de trabalho no campo de cuidados com os cabelos. Mas, quaisquer que sejam suas especialidades e preferências, elas executam com perícia um grande repertório de técnicas. Para observadores atentos, o balé das mãos da profissional, associado às ferrramentas, merece ser visto. Quase sempre se pensa que tais movimentos são automáticos. Mas, qualquer barreira ou diferença encontrada mostra que a profissional em sua fluência de movimentos tem consciência de seus gestos. Convém observar que a consciência dos gestos é uma necessidade na fase de aprendizagem. Todas as considerações de Rose sobre o domínio técnico [o balé das mãos] mostram que técnicas não são meras habilidades, mas um saber que se articula na ação com saberes de outras naturezas.
É preciso não ignorar as condições concretas de exercício da profissão. Em salões, profissionais iniciantes, e mesmo experientes, são muitas vezes exploradas. Além disso podem ser impedidas de executarem um repertório amplo de técnicas que dominam, ficando limitados a rotinas repetitivas. Tudo isso precisa ser considerado quando se fala em profissão, e Rose tem esse cuidado.
No caso americano, dada a legislação de exercício profissional de quase todos os estados do país, os salões requerem formação sistemática em escolas autorizadas. E em quase todo o país os profissionais passam por exame de ingresso na profissão, feitos ou por órgão de governo ou por sindicato da categoria. Por isso, a maioria das profissionais tem formação escolar específica. Mas, assim como os profissionais de nossa terra, elas sabem que precisam de atualização constante. E o autor analisa isso em todas as conversas com as cabeleireiras que entrevistou.
Thursday, January 21, 2010
Novos Valores e Sentimentos
Acabo de ver divulgação de um vídeo interessante no Boing Boing. Insiro tal peça aqui no Aprendente. Vejam que um drama contemporâneo.
Pássaros da Cidade
Acabo de escrever proposta preliminar para o segmento Desafio Educacional, do programa Caminhos da Escola que está sendo produzido pelo MEC.
Faz tempo que observo que a variedade e número de pássaros aumentou na cidade de São Paulo. Ou para ser mais preciso, constato aumento de passarinhos nas áreas bem arborizadas da cidade em que vivo. Essa constatação de senso comum me levou a pensar que a presença de pássaros nativos em centros urbanos é um bom sinal em termos de saúde ecológica. Essa minha observação foi reforçada por uma constatação que fiz quando estive no Timor Leste. Em Dili, capital do país, e cercanias há poucos pássaros. Até que existe bastante vegetação em torno da cidade, mas eu soube que grande parte da cobertura vegetal nativa desapareceu por causa do modelo de exploração colonial praticado pelos portugueses. Hoje, parte significativa das árvores do Timor Leste vieram de fora. Quase todos os pássaros que conviviam com a antiga cobertura vegetal desapareceram
Dei ao Desafio que sugeri esta semana o titulo de Pássaros da Cidade. Na proposta, os alunos são convidados a realizar uma proeza bastante difícil: fotografar pelo menos dez espécies de pássaros na cidade em que vivem. Para fazer isso terão de estudar bastante, além de terem de aprender certos truques fotográficos para serem bem sucedidos.
Espero que a proposta seja interessante e engaje o grupo de alunos desafiados numa bela aventura de aprendizagem. Não entro em mais detalhes. Quando o programa estiver pronto para ir ao ar darei um alô aqui.
Em levantamentos que fiz sobre pássaros em centros urbanos, encontrei um vídeo, produzido pelo Canal 2, que pode ser interessante para educadores que queiram criar propostas parecidas com Pássaros da Cidade. Quem quiser conhecer o citado vídeo pode encontrá-lo com uma clicada no título que segue:
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